EDUCAÇÂO

Parâmetros de qualidade na Educação Infantil: um convite ao cuidado e à coragem

Indicação afetiva de leitura do novo dossiê da Revista Zero-a-Seis

Escrevo com o coração aquecido por um material que nos chama pelo nome e pelo afeto. A Revista Zero-a-Seis acaba de lançar o dossiê “Parâmetros de Qualidade da Educação Infantil: Disputas, conflitos e desafios” (v. 27, 2025, publicação contínua), do NUPEIN/CED/UFSC. É acesso aberto, cheio de vozes potentes e perguntas necessárias. Trago esta indicação porque acredito que qualidade na Educação Infantil começa no colo, passa pela sala, chega à gestão e alcança a cidade inteira.

Quando falamos de “parâmetros de qualidade”, estamos falando de pessoas reais: do brilho nos olhos das crianças, da confiança das famílias, da dignidade do trabalho de professoras e professores, e do compromisso público com a infância.

Por que falar de qualidade dói — e cura

Qualidade não é uma lista fria de itens; é um pacto de cuidado. Dói porque nos faz encarar filas, turmas lotadas, falta de materiais, salários e formações insuficientes. E cura porque nos lembra que é possível reorientar rotas, fortalecer equipes, escutar as crianças e transformar o cotidiano. O dossiê nos ajuda a nomear conflitos e, ao mesmo tempo, a abrir caminhos.

O que este dossiê traz (em linguagem de quem está na prática)

  • Disputa de sentidos: o que estamos chamando de “qualidade”? Tempo de brincar livre? Espaços que acolhem? Vínculos? Currículo vivo? Tudo isso importa — e o dossiê debate o peso de cada coisa.
  • Conflitos do cotidiano: avaliação que respeita a infância, organização dos tempos e espaços, relação com as famílias, inclusão de todas as crianças.
  • Desafios estruturais: formação continuada, condições de trabalho, financiamento, gestão democrática, políticas que garantam o direito à Educação Infantil.
  • Esperança concreta: propostas, experiências e argumentos que fortalecem quem está na sala, na coordenação, na secretaria e na comunidade.

Quem ganha com essa conversa

  • Crianças: mais escuta, mais brincadeira, mais pertencimento.
  • Famílias: mais confiança, comunicação próxima e parceria real.
  • Profissionais: mais reconhecimento, clareza de propósito e apoio formativo.
  • Cidade: mais justiça social e políticas sustentadas por evidências e afeto.

Como levar para a prática já amanhã

  1. Uma pergunta por dia: na reunião pedagógica, escolham uma pergunta do dossiê (por exemplo, “o que o brincar revela hoje?”) e observem a semana com esse foco.
  2. Roda de escuta com famílias: 30 minutos, três perguntas simples, devolutiva transparente.
  3. Mapa do afeto: marquem na planta da escola os lugares onde as crianças mais brilham — e onde se entristecem. Isso orienta mudanças rápidas.
  4. Acervo vivo: escolham um texto curto do dossiê por mês para estudo, com mediação sensível e exemplos do cotidiano.
  5. Indicadores que cabem no coração: menos planilhas vazias, mais narrativas de aprendizagens, fotos com consentimento, portfólios e observações significativas.

O que está em disputa — para além dos papéis

  • A infância como direito, não como preparação apressada para o ensino fundamental.
  • O tempo do brincar como aprendizagem, não como “intervalo”.
  • A avaliação como documentação sensível, não como etiqueta.
  • A formação continuada como cuidado da equipe, não como obrigação burocrática.
  • A gestão como presença que escuta, não como exigência distante.

Portas de entrada para a leitura

Se você está chegando agora, sugiro três caminhos afetivos para começar:

  • Brincar e currículo: textos que ajudam a reconhecer a potência do brincar na organização da rotina e nas escolhas pedagógicas.
  • Documentação e avaliação: materiais que inspiram práticas respeitosas, com foco na narrativa das aprendizagens.
  • Formação e gestão: reflexões para fortalecer equipes, tempos de estudo e decisões compartilhadas.

Pequenas grandes cenas que a qualidade protege

  • Uma educadora descobre, pela terceira vez, a forma de acolher uma criança que chora — e cria um ritual de chegada que vira poesia diária.
  • Um gestor reorganiza horários para garantir tempo de planejamento sem culpas nem correria.
  • Uma família encontra na escola um lugar de conversa sincera, onde dúvidas são acolhidas e saberes são somados.
    Essas cenas, tão simples, são indicadores de qualidade. São vida que acontece.

“Como usar” este dossiê na sua rede

  • Escola/creche: estudo mensal em pequenos grupos, com devolutivas práticas (o que muda amanhã?).
  • Coordenação: roteiro de observação de salas que priorize vínculos, tempos, espaços e brincadeira.
  • Secretaria/gestão pública: rodas com equipes para transformar consensos do dossiê em metas do PPP e do plano de formação.
  • Conselho escolar/comunidade: leitura compartilhada de trechos curtos, com perguntas que aproximem escola e território.

Serviço

É acesso aberto. Compartilhe com quem está na lida: professoras, professores, gestoras(es), estudantes, famílias e quem acredita que a cidade precisa caber nas mãos pequenas das crianças — com cuidado, coragem e compromisso.


Se eu pudesse resumir este dossiê em uma imagem, seria a de uma casa com portas abertas: entra o brincar, entra a pesquisa, entra a política pública, entra a família — e, no centro, as crianças, que nos mostram todos os dias que qualidade é, antes de tudo, um modo de amar com responsabilidade. Que este material nos sirva de mapa e de abraço.

Norma Frost

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